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Grilo Falante: sobre a consciência do privilégio

por:

ithsm

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O Grilo hoje acordou ainda mais provocativo e quer falar ao pé do ouvido das lideranças corporativas pra ver se consegue acelerar as mudanças necessárias por aí…

– Ei, psiu, olha só, deixa eu te contar uma coisa: tem gente passando muita vergonha por aí.

Ah, não! Lá vem esse Grilo falar que todos os nossos cursos de graduação, pós-graduação, especialização, todas as nossas viagens, livros lidos, não lidos, palestras, TEDs, conferências, aumentos de salário, patrimônio, bônus… Tudo isso não serviu pra nada?

– Calma! Serviu sim: pra você conquistar esse espaço que hoje ocupa. Mas talvez não tenha ainda servido pra você aproveitar esse espaço e promover as mudanças necessárias… Deixa eu te fazer uma pergunta: será que você é mesmo a única pessoa capaz de ocupar esse cargo?

[silêncio] …Ué, os headhunters, os feedbacks do RH e dos pares nacionais e internacionais dizem que sim.

– Concordo… Mas olha pro seu lado. Quem tá do seu lado? Eles parecem com você? Vocês têm histórias de infância parecidas? Frequentaram as mesmas escolas? O mesmo clube? Os pais são amigos? As universidades competiam nos jogos interescolares? A pós, foi no mesmo país? Se você responde parte dessas perguntas com sim… então, parabéns! Você é o melhor… entre os privilegiados. E os privilegiados, veja, são a minoria no Brasil.

Em reportagem recente publicada pela Folha de S. Paulo sobre a desigualdade social brasileira, segundo o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, o Brasil é hoje o país democrático que mais concentra renda no topo da pirâmide.

A desigualdade é gigante e precisa ser combatida com medidas na mesma proporção. Se a gente for pensar nas regras do “livre mercado”, há medidas e instituições que defendem a competição saudável entre as marcas e empresas, certo? Mas quando o assunto são pessoas, as regras são desiguais e hoje é a liderança (você!) que precisa agir no sentido da mudança.

Já há exemplos a serem seguidos. No Brasil, o Google resolveu investir na contratação de estagiários negros para aumentar, no decorrer do tempo, a representatividade negra nos cargos de liderança. Sim, isso é uma questão de decisão corporativa. Para isso, a empresa de forma vanguardista retirou a exigência de inglês da lista de pré-requisitos na contratação. Explicou em nota enviada à imprensa que menos de 5% da população brasileira fala um segundo idioma e que essa porcentagem é ainda menor entre jovens negros. Quando aprovados no processo seletivo, tais estudantes vão fazer curso intensivo de inglês dentro do escritório do Google, entre outras iniciativas que possibilitem acelerar o desenvolvimento desses candidatos. Simples, né?

Outro grande defensor da causa é Michel Farah sócio fundador da Social In uma das maiores plataformas para e empregabilidade de PcD no Brasil. Com o objetivo de ampliar a empregabilidade através da equidade, propagando a inclusão e construindo um legado de respeito a pluralidade, Michel vem trabalhando as empresas a enxergarem inclusão e diversidade como objetivos da missão das empresas e não como cumprimento de cotas segundo a legislação ….

– Mas olha, tem muito mais líderes corporativos passando mais vergonha por aí do que supõe a nossa vã filosofia…

Eita, qual mais?

– Bem, dá muita vergonha contar, mas é necessário. Andrea Schwarz, CEO na iigual Inclusão e Diversidade, contou durante o evento BlastU, sem revelar nomes, que outro dia recebeu telefonema de uma liderança de RH falando o seguinte: “Fizemos uma obra, colocamos rampa e deixamos o banheiro acessível, você tem um candidato cadeirante para a vaga?”. Uma outra liderança de RH deu um feedback sobre outro candidato indicado pela iigual Inclusão e Diversidade: “a profissional é ótima, mas posso ser sincera? Ela tem cara de faxineira”. #vergonhaalheia

O Grilo aqui explica que isso não é sinceridade, mas violência. Os preconceitos são estruturais, é verdade, mas, com consciência, dá para não ser essa pessoa. A gente precisa juntos repensar o que entendemos sobre seres humanos, respeito e inclusão.

Num recente censo demográfico, 45,6 milhões de pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência, seja do tipo visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. Isso representa mais de 20% da população brasileira.

De forma geral, as marcas são muito ágeis em responder, pela comunicação, às mudanças de comportamento, o que é bom. Nos últimos dois anos, temos visto sendo incluídos na comunicação de marca casting diverso em cabelo, tipo de corpo, gênero, etnia. A família Doriana vem ficando cada vez mais obsoleta na publicidade. Mas a pergunta é: e dentro das corporações? Resiste a configuração da corporação família Doriana dos anos 80?

Conviver com o diferente é ampliar possibilidades de enxergar a própria vida. É expandir a consciência sobre o que é ser Humano. A atuação das corporações, marcas, seus significados, sua importância é fundamental para isso. A bolha onde nós, privilegiados, fomos formados para hoje estarmos sentados com as “canetas nas mãos”, precisa estourar urgentemente. Quem tem mais precisa estender a mão e puxar quem não teve as mesmas oportunidades até aqui. Vamos juntos?

Vem tomar um café com a gente pra criarmos um plano de atuação rumo à real diversidade no mundo corporativo. A gente pode garantir que quando você for líder de uma maioria diversa, aí sim, você será o melhor dos melhores e vai poder aproveitar esse lugar na integridade.

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